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O QUE A COP30 REVELOU SOBRE AS ELEIÇÕES 2026 NO PARÁ

  • Foto do escritor: Equipe Doxa
    Equipe Doxa
  • há 1 minuto
  • 4 min de leitura

Lula perde espaço; Helder ganha fôlego; pré-candidatos estabilizados; e ministros colhem os frutos da visibilidade.


A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, realizada no coração da Amazônia, em Belém, foi um marco geopolítico e ambiental. No entanto, seus reflexos imediatos no termômetro político local, medidos em pesquisas da Doxa antes e depois do evento, pintam um retrato complexo e revelador sobre o discernimento do eleitor paraense e lançam luzes sobre as eleições de 2026.

O presidente Lula teve presença constante em Belém durante a COP30, projetando-se no palco global como anfitrião da principal discussão climática do planeta. Essa exposição não se converteu em capital político local. Pelo contrário. Em outubro, sua aprovação em Belém era de 58% e desaprovação de 37%. Após a COP, a aprovação caiu para 52%, mas a desaprovação saltou para 48%. O dado é contundente: o eleitor belenense soube separar o protagonismo internacional do presidente da avaliação de seu governo. A COP30 não serviu como "salvadora" de uma imagem já desgastada, sugerindo que as demandas locais são as grandes definidoras do voto.

Enquanto Lula não colheu os frutos esperados, o governador Helder Barbalho (MDB) emergiu como a figura política que mais se beneficiou do evento. Sua aprovação, em outubro, era de 73% em Belém, subiu para 76% após a COP. Helder, como anfitrião direto, conseguiu associar sua imagem à relevância do evento.

O prefeito de Belém, Igor Normando, representa um caso de estabilidade na gestão. A avaliação do prefeito manteve-se praticamente inalterada (61% para 62% de aprovação), antes e depois da COP30, indicando que o eleitor atribuiu os méritos e eventuais ônus do evento mais às esferas federal e estadual.

Chama a atenção nesse evento global o proveito tirado pelos dois ministros paraenses que conseguiram aumentar seu capital político pós-evento: Jader Filho, ministro das Cidades e Celso Sabino, ministro do Turismo. Jader Filho (MDB), pré-candidato a deputado federal, viu suas intenções de voto em Belém saltar de 12% para 17%. Celso Sabino (UNIÃO), pré-candidato ao Senado, cresceu de 7% para 12%.

Esses saltos são significativos em um cenário de estabilidade geral. Os ministros Jader Filho e Celso Sabino “usaram” o evento para mostrar serviço (em suas pastas) e ganhar visibilidade própria. Eles usaram a COP30 não como um palanque genérico, mas como uma vitrine de suas competências específicas. Jader Filho muito associado às entregas de obras e serviços como Minha Casa Minha Vida; Celso Sabino, do Turismo, à promoção do Pará. Eles criaram "casos de sucesso" tangíveis

No campo eleitoral, visando às eleições de 2026, os dois principais competidores, Hana, indicada pelo Governador e Dr. Daniel, prefeito e Ananindeua, ficaram estabilizados em suas intenções de voto. Dr. Daniel, manteve-se estável em 30%, demonstrando uma base sólida e imune ao "efeito COP" do governador.

Enquanto Helder colhia os louros, seu projeto sucessório mostrou-se estagnado. A vice-governadora Hanna Ghassan, coordenadora do Comitê da COP30, manteve suas intenções de voto congeladas em 19%. O dado revela um abismo entre a aprovação do padrinho e a adesão à sua protegida, sugerindo que o eleitor avalia a candidata por seus próprios méritos, não como um mero prolongamento do governador.

Enquanto os ministros usaram a COP para projetar suas próprias competências (obras, turismo), a vice-governadora, mesmo em cargo de coordenação, não conseguiu forjar uma narrativa própria e distintiva para o eleitor. Seu papel parece ter sido ofuscado pela figura do governador, o verdadeiro anfitrião.

O eleitor belenense teve um discernimento claro e muito evidente quando se analisa a percepção sobre o evento em si. Quando questionados se aprovavam a realização da COP30 em Belém, 78% dos entrevistados responderam positivamente, contra apenas 18% de desaprovação (Pesquisa Doxa). Este dado é crucial: ele desfaz qualquer dúvida sobre uma possível "rejeição à COP" como fator para as mudanças nas avaliações políticas.

O povo de Belém aprovou maciçamente o evento, celebrou sua importância e, ainda assim, soube fazer uma avaliação crítica e separada do desempenho de cada ator político. Aprovar a COP30 não significou dar um cheque em branco aos governantes. Pelo contrário, a alta aprovação do evento serve como pano de fundo que torna as mudanças nas pesquisas ainda mais significativas: em um cenário de grande orgulho e aceitação local da conferência, os ganhos políticos foram seletivos e por mérito pessoal do ator político, não um efeito automático.

O eleitor de Belém distinguiu com clareza entre um evento global e a performance dos governantes. Eventos não mudam avaliações profundas por si só. A COP30 em Belém foi um sucesso para as discussões da agenda climática, mas um terremoto político seletivo. Ela não abalou as estruturas mais consolidadas (como a pré-campanha governamental), mas realinhou forças sutis: fortaleceu o governador no topo, não resgatou o presidente e lançou dois fortes candidatos ao Congresso Nacional. Em 2026, os votos para deputado federal e senador em Belém trarão, em seus números, o eco das discussões climáticas de 2025 e da astúcia de quem soube, naquele momento, transformar discurso global em voto local.

A COP30 fortaleceu a imagem de Helder Barbalho como chefe político do Pará, com aprovação saltando de 73% para 76% em Belém após o evento. A COP30 não resgatou o presidente, lançou candidatos ao Congresso e expôs os limites da transferência de capital político no Pará. A geopolítica do clima revelou a sofisticação do voto na Amazônia.

No entanto, os números da sucessão governamental contam uma história diferente e revelam um enigma estratégico para 2026: por que esse capital político não se transfere para sua candidata indicada, a vice-governadora Hanna Ghassan?

 

Dornélio Silva

Cientista Político da Doxa

 

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